1 2 0 D A S P E R E G R I N A Ç Õ E S C R I S T Ã S / C A T Ó L I C A S A O T U R I S MO R E L I G I O S O Algumas crónicas registam eventos semelhantes na Grécia Antiga e no Antigo Egipto; Heródoto (um dos primeiros autores de descrições de viagens) escreveu que centenas de milhar de pessoas navegavam no Nilo em direção a esses templos. Na Bíblia (Antigo Testamento), aparece a figura do autêntico peregrino; Abraão, obediente à voz de Deus, num ato de fé absoluta, deixou tudo e pôs-se a caminho. Moisés, ao tirar os seus irmãos da escravidão do Egipto, por ordem de Deus, tornou-se o organizador e animador da mais difícil ‘peregrinação’ realizada através dos tempos. Já no Novo Testamento, o Evangelho de Lucas mostra que os pais de Jesus iam todos os anos à Páscoa, no quadro de uma peregrinação coletiva que juntava familiares e conhecidos e Este também a fez, quando atingiu a idade de 12 anos, como qualquer jovem judeu maior. Na época do imperador romano Constantino (reinou entre 306 e 337), sua mãe, Santa Helena, mandou construir basílicas nos locais onde se crê que Jesus nasceu, foi crucificado e amortalhado. Em 380, Teodósio decreta o cristianismo como religião oficial do império (Édito de Tessalónica), construindo-se, então, numerosos edifícios nos lugares santos. O primeiro documento, com algum relevo, que testemunhou a amplitude e a vastidão do fenómeno das peregrinações aos lugares santos da Palestina, data do final do século IV, tratando-se do célebre “diário de viagem” de Egéria, virgem consagrada da Galécia (Espanha), e que terá ocorrido, provavelmente, de 381 a 384. Esta obra descreve, detalhadamente, a liturgia de Jerusalém, tanto na forma do quotidiano, como a celebrada aquando da Natividade, da Apresentação, da Quaresma, da Semana Santa e da Páscoa. Segundo Vidal (1996), a influência destes rituais nos peregrinos que regressavam, entre os quais muitos bispos ou eclesiásticos importantes, levou à adoção de alguns destes costumes nas Igrejas, tanto do Oriente como do Ocidente. Assim, deixou de se praticar a lectio continua e passou a ler-se, nos dias festivos, a eucaristia, a liturgia das Horas e as passagens das escrituras apropriadas. Ao longo dos primeiros séculos de cristianismo, as igrejas e o seu clero fizeram edifícios para os santos, fixaram o calendário e a disciplina do culto, mas não organizaram, na origem, a peregrinação, que se manteve um fenómeno espontâneo. “Por vezes a hierarquia inquietava-se por causa das deslocações longínquas, que deixavam fora do seu controlo o povo de viajantes, reagindo com diretivas como a do concílio de Nîmes, no final do século IV, que lembrava que os viajantes não tinham o direito automático de receber assistência, sob o pretexto de estarem em peregrinação.” (Pietri & Pietri, 1982: 114).
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