1 2 1 D A S P E R E G R I N A Ç Õ E S C R I S T Ã S / C A T Ó L I C A S A O T U R I S MO R E L I G I O S O No final do século VI, início do século VII, com a invasão árabe, amputou-se ao império bizantino a Síria, a Palestina e o Egipto. Em 638, o Califa Omar conquista Jerusalém. Os novos donos respeitaram os lugares santos e deixaram-nos nas mãos dos guardiães anteriores. Embora os cristãos se tenham tornado cidadãos de segunda classe e fossem sacrificados com impostos suplementares eram, no geral, tratados de forma honesta. Não obstante os peregrinos continuassem a acorrer à Palestina, com o decorrer do tempo, deixaram de procurar os santuários situados nos outros territórios, tendo estes definhado e acabado por desaparecer. Entretanto, no Ocidente cristão, o culto dos santos e, por consequência, a veneração de relíquias sobrepunha-se a todas as outras formas de piedade. Para os leigos iletrados, o acesso ao tesouro da Escritura mantinha-se fechado, as riquezas da liturgia pouco acessíveis, e o ascetismo monástico um ideal difícil de compreender. Se eles obedeciam à obrigação dominical e ao repouso que o acompanhava, imposto pela autoridade carolíngia, compreendiam mal o sentido da missa, frequentando-a raramente; ao contrário, os santos ofereciam um modelo próximo e socorro imediato contra o mal. Nem os príncipes, bispos ou os clérigos desdenhavam o seu recurso, considerando todos que as relíquias conservavam o poder do santo de interceder junto a Deus. Ora como os corpos dos santos não podiam ser transladados, para os venerar era obrigatório fazer peregrinações distantes, perigosas e dispendiosas. Mas a partir do século VIII, por necessidade ou por devoção, os responsáveis eclesiásticos aceitam a sua divisão e o seu transporte; antes era necessário ir aos santos, agora eram os santos que vinham até ao crente. Poderia pensar-se que esta multiplicação faria com que os centros de peregrinação perdessem parte do seu poder de atração, pois todos eles, incluindo os mais recentes, possuíam um tesouro de relíquias, mas aconteceu exatamente o invés, uma vez que a consequência direta desta medida foi a de os peregrinos demandarem um maior número de santuários, muitas vezes no ensejo de adquirir uma relíquia. A partir do século X, o Ocidente cristão expandiu-se: na Espanha, a Reconquista (até ao século XIII) alastrou-se à grande maioria da Península; a evangelização da Hungria permitiu abrir uma rota terrestre para os lugares santos; no Mediterrâneo, a reconquista da Sicília tornou as viagens de barco ao Próximo Oriente bastante mais seguras; em 1099, com o incitamento do Papa Urbano II para a Guerra Santa, os cruzados tomaram de
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