ESHTE Tourism Talks Vol. I

1 2 2 D A S P E R E G R I N A Ç Õ E S C R I S T Ã S / C A T Ó L I C A S A O T U R I S MO R E L I G I O S O assalto Jerusalém e estabeleceram um reino latino; em complemento, com a conversão dos povos escandinavos, a Europa cristianizou-se por completo. À expansão política, juntou-se a económica, promovendo esta as trocas e favorecendo os contactos e as viagens. A melhoria dos meios de comunicação, em particular os marítimos, permitiu a um número crescente de peregrinos deslocarem-se além-fronteiras. Na realidade, os séculos XI e XII marcam uma etapa importante na história das peregrinações cristãs, pois, por um lado, desenharam-se os itinerários para os santuários com projeção internacional, nomeadamente Roma (Itália) e Santiago de Compostela (Espanha), aduzindo-se a estes uma rede de santuários secundários, e, por outro, definiram-se os elementos que faziam do peregrino um viajante especial. A pensar nos que tinham que percorrer longas distâncias, foi elaborada, no século XIII, uma regulamentação internacional, tanto no quadro do direito da Igreja (o canónico), como no do direito civil (o romano ou consuetudinário). Esta protegia o peregrino da prisão arbitrária e da agressão assim como da exploração económica, estando o mesmo, inclusive, isento de portagens e outras taxas. Já dois séculos antes, o Papa Gregório VII excomungava os que ousassem parar ou prender um peregrino. Também a morte de um peregrino era punida, desde a época carolíngia, com mais severidade do que a de um simples viajante. Em suma, todas estas medidas tinham por objetivo defender o peregrino contra as inferioridades inerentes à sua condição de estrangeiro. No decorrer dos séculos XIV e XV, multiplicaram-se as indulgências e jubileus num número crescente de santuários, popularizando-se a peregrinação. Com uma procura acrescida, editaram-se bons guias de viagens, com descrições precisas, tendo sido, talvez, o mais famoso, o atribuído a Aymerie Picaud, de Partenay-le-Vieux, sobre os caminhos de Santiago. As pousadas que acolhiam os peregrinos foram-se transformando em estalagens onde se podia comprar comida, vinho e gozar entretenimentos vários, a troco de dinheiro. Muitos resistiam mal às tentações que encontravam no caminho e contribuíam para a reputação de falsos peregrinos; “era grande o número dos que se comportavam como turistas, avant la lettre, manifestando mais curiosidade que devoção, já para não falar dos que assumiam comportamentos de aventureiros mundanos.” (Rapp, 1982: 215). Os doutores, cujo destaque aumentava com a propagação das universidades, denunciavam o que as peregrinações tinham de errado. Os humanistas, como Chaucer nos “Contos”, ou Erasmo no “Elogio da Loucura”, analisam-nas de forma sarcástica e alguns teólogos,

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