ESHTE Tourism Talks Vol. I

1 2 3 D A S P E R E G R I N A Ç Õ E S C R I S T Ã S / C A T Ó L I C A S A O T U R I S MO R E L I G I O S O como Thomas de Kempis (o autor da “Imitação de Cristo), observavam que eram raros os fiéis a encontrar a santidade no final da sua caminhada, criando, assim, um arsenal de opiniões que viriam a sustentar algumas das teses dos reformadores. No século XVI, no âmbito do Protestantismo, Martinho Lutero advogava a ligação entre o crente e Deus, sem passar por um intermediário; “atos concretos, tais como a veneração de relíquias e, consequentemente, a peregrinação aos santuários onde elas eram veneradas, deixava de ter sentido, pois esta oferecia inúmeras ocasiões de pecar e desprezar os mandamentos de Deus.” (Sauzet, 1982: 238). Com a defesa da posição deste clérigo, por parte dos príncipes eleitores alemães, nasceu em 1530 a Confissão de Augsburgo. Três anos mais tarde, Henrique VIII desafia a autoridade de Roma, divorciando-se de Catarina de Aragão, para casar com Ana Bolena; por ter sido excomungado, decreta, em 1534, o Ato de Supremacia, o qual estabelecia ser o rei o chefe da Igreja em Inglaterra. Ainda nesta década, Calvino funda uma nova versão do Protestantismo na Suíça. Nos territórios dominados pela nova fé, aboliram-se muitos santuários e pôs-se fim às peregrinações (algumas ressurgiriam no século XIX). Nos países católicos, com o Concílio de Trento e a Reforma Cristã, ocorrida na segunda metade do século XVI, a Igreja tridentina assume um controlo rigoroso sobre os abusos e superstições ligados às práticas religiosas, entre as quais se contavam as peregrinações. Na sequência da Reforma, reforçou-se a exaltação do culto da Virgem (venerada como triunfadora sobre os inimigos da Igreja e pela intercessão nos grandes sucessos militares sobre o Islão), dando origem a inúmeros santuários marianos. Outro traço marcante desta época foi a descoberta de novos mundos, onde o Catolicismo pôde alargar o seu campo de influência, compensando, de alguma forma, as populações perdidas nos territórios protestantes. O Catolicismo moderno era, antes de mais, romano, e, no plano das peregrinações, traduziu-se na restauração da prática do jubileu. Se o número de fiéis tinha sido inferior em 1500, não tendo sido grande o fluxo em 1525 e 1550, o contrário deu-se em 1575 e 1600. As construções e reconstruções dos templos na cidade eterna (época de Bernini e de Borromini), ordenadas pelos papas da Reforma Católica, exprimiam o poder da Igreja renovada, constituindo a basílica de São Pedro a obra prima, pois esta deveria emocionar o crente no final da sua longa viagem.

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