ESHTE Tourism Talks Vol. I

1 2 5 D A S P E R E G R I N A Ç Õ E S C R I S T Ã S / C A T Ó L I C A S A O T U R I S MO R E L I G I O S O Ainda nos últimos decénios do século XVIII, a supressão dos Jesuítas foi mais um duro golpe infligido às peregrinações, em particular na Europa Central, onde estes eram os promotores mais ativos destas manifestações de massas, para além de serem os responsáveis de numerosos santuários com um alto poder de atração. Em paralelo, assistiu-se ao repúdio desta devoção barroca, pelos príncipes iluminados que escarneciam “dos braseiros de velas, das estátuas vestidas como ídolos, dos rebanhos de homens e mulheres que fervilhavam estupidamente ao redor das capelas milagrosas, grasnando cânticos” (Moulinas, 1982: 283). Por fim, a Revolução Francesa e a sua extensão ao resto do continente (através das campanhas napoleónicas) destruiu tanto os lugares, como os ritmos da peregrinação popular. No início do século XIX, a peregrinação, desprezada pelas elites iluminadas e perseguida pelas autoridades civis e religiosas, encontrava-se moribunda; muitos santuários soçobraram nesta onda de perseguição. Contudo, durante estes mesmos anos, no âmbito do Romantismo, uma mudança de espírito começava a despontar. Na Alemanha, Achim von Arnim recolheu as diferentes formas de expressão da poesia popular nas “Das Knaben Wunderhorn”, associando às peregrinações a sua alma escondida. Na mesma época, em França, Chateaubriand no “Génio do Cristianismo”, longe de partilhar o desprezo dos intelectuais pelas devoções populares, reabilitou as peregrinações, afirmando que feitas, num espírito inocente, elas eram mais eficazes contra a infelicidade do que todas as desesperantes teorias de pensadores de coração seco. De facto, passada a tormenta revolucionária e estabelecida a paz na Europa, a piedade católica podia exprimir-se sem obstáculos. As peregrinações locais e regionais animaram, de novo, os caminhos que tinham sido, durante muito tempo, domínio da polícia e dos militares, constatando-se, no entanto, que, depois de 1815, tinham deixado de existir centros de devoção de dimensão internacional. De forma a contrariar esta situação, Leão XII, em 1825, ressuscitou o jubileu, pretendendo fazer do ano santo (o primeiro após 1775) a manifestação solene da perenidade da Igreja, que a sociedade moderna, voltairiana e laicizada, não tinha conseguido abater. No renascimento das peregrinações, a grande novidade foi o facto de os santuários tradicionais, centrados no túmulo de um santo ou numa imagem milagrosa, terem deixado de atrair as grandes massas de fiéis, passando este papel a ser desempenhado por santuários como La Salette, Lourdes ou Fátima, onde a Virgem tinha aparecido e deixado mensagens que reforçavam a resistência contra novas visões laicas.

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