4 7 Turismos, riscos e ética na Era da Pós-Verdade1 Graça Joaquim (graca.joaquim@eshte.pt) ESHTE Cies.Iscte.Iul ______________________________________________________________________ Banalizou-se a expressão Pós-Verdade. Basicamente quer dizer que os factos deixaram de contar. Que a ciência está a ser desacreditada. Que cada um constrói a sua verdade. Que as fronteiras entre factos e opiniões deixaram de existir. Que qualquer coisa pode ser também o seu contrário. Ou seja, que as conquistas do Iluminismo, da Razão e da Ciência, numa era de informação sem precedentes, paradoxalmente, estão a produzir a ignorância e a ganância em massa. Que do melhor que a Humanidade construiu, assiste-se actualmente a um processo autofágico onde os criadores matam a sua criação, ou melhor os seus herdeiros traem despudoradamente esse maravilhoso legado, invertendo todas as premissas, de tal forma que hoje estamos perante metamorfoses (Beck, 2016) e não mudanças sociais. O impensável ontem, acontece hoje. Todos os dias. Creio que muitas destas perturbantes metamorfoses se devem à desvalorização da Ética (Singer, 2002) tanto na nossa vida quotidiana, na nossa relação com os outros, os próximos e os distantes, com o trabalho, com os animais, com a natureza e na relação com a cultura e as artes. A Ética pressupõe a universabilidade e o papel justificativo da razão. Pressupõe o exercício de um raciocínio ético e o alargamento universal do interesse parcial. Ou seja, devo defender o meu interesse e o interesse dos que amo, mas bater-me para que esses interesses sejam universais. Exemplificando, se acho que eu e o meu filho merecemos muito mais que o salário mínimo pelo nosso trabalho, devo bater-me por isso, defendendo o alargamento desse princípio a nós e a todos os outros. 1 Por opção da autora, este artigo segue a grafia anterior ao corrente acordo ortográfico. T U R I S MO S , R I S C O S E É T I C A N A E R A D A P Ó S - V E R D A D E
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