ESHTE Tourism Talks Vol. I

4 9 Iniciei este artigo de opinião com a questão da pós-verdade. Exactamente porque o esvaziamento dos conteúdos e a sua validação se têm vindo a tornar a norma. Este processo, perigoso e imprevisível, tem-se banalizado na esfera pública não só ao nível das redes sociais, mas nos meios de comunicação em geral, nos discursos de personalidades públicas, incluindo muitos dos ditos especialistas, numa voragem a que os sistemas educativos e a sociedade civil nas suas múltiplas organizações precisa de reflectir, intervir e inflectir. Trata-se efectivamente da necessidade de recolocar a Ética, a Razão, a Ciência e o Outro no centro dos debates, o que se torna particularmente difícil no contexto da maior crise mundial das nossas vidas, onde a par da solidariedade pessoal, comunitária e social, grassam todo o tipo de egoísmos pessoais, regionais e nacionais, comunicados e partilhados à escala global onde informação, entretenimento, desinformação, agendas plurais, constroem paulatinamente um mundo cada vez mais disfuncional sob o eufemismo da pós-verdade, que na prática legitima juízos de valor como factos, ideologias como ciência e riscos como negacionismo. E onde o turismo é dos sectores mais castigados num mundo quase confinado há mais de um ano (Higgins-Desbiolles, 2020; Gossling, 2021). Como será o futuro do turismo? Que riscos e percepção do risco afectarão o Turismo? Estará o turismo perante uma morte anunciada por causa dos crescentes riscos? As actividades económicas mudam e transformam-se. Algumas extinguem-se e outras emergem. Ora aqui começam as grandes questões. O Turismo é muito mais que uma actividade económica. E o turista é erradamente tratado em muitos destinos apenas como “uma carteira com pernas”. Expressão feliz que peço emprestada à grande viajante Miguta Água e Silva. O problema começa logo no discurso institucional onde apenas são abordados os aspectos económicos do turismo. O peso no Produto Interno Bruto (PIB), a contribuição fortíssima para o emprego, esquecendo que o sector turístico é fortemente responsável por baixos níveis de sustentabilidade social através da prática generalizada de baixos salários elevados níveis de precarização do emprego e grande penalização na conciliação entre o trabalho e a família. O sector turístico do ponto de vista da sustentabilidade social não é grande coisa. E as responsabilidades são públicas e privadas. E talvez também da academia que repete o modelo da oferta e da procura e o mantra económico do turismo, que é importante, mas é uma consequência da excepcionalidade destas actividades e experiências (Joaquim, 2015). E desigual e fortemente penalizadora dos seus trabalhadores e de muitas das comunidades onde se desenvolve. O turismo tem T U R I S MO S , R I S C O S E É T I C A N A E R A D A P Ó S - V E R D A D E

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