5 0 sido em Portugal e em muitos outros países, sobretudo fora do mundo ocidental, um contribuinte líquido para a pobreza relativa. Ou seja, milhões de pessoas que trabalham a tempo inteiro, e ainda assim não conseguem viver condignamente mal suportando os custos das necessidades básicas. Nesta perspectiva a análise dos riscos e da percepção dos riscos é aterradora! Das múltiplas pandemias que têm assolado este século (o 11 de Setembro e a consequente pandemia do terrorismo, a pandemia das desigualdades sociais e dos novos pobres, a pandemia financeira iniciada em 2008 com a falência do Lehman Brothers, e agora a Covid-19). Para já não falar das gripes asiáticas. Todas elas tiveram impactes fortíssimos no turismo nacional e internacional. E na vida das comunidades. Com grandes diferenças regionais. Mas o turismo recuperou sempre. Do ponto de vista dos números. E da riqueza criada. E ultrapassou sempre as expectativas da sua própria capacidade de recuperação. Porque poucas pessoas depois de terem o coração partido não voltam a apaixonar-se. É preciso tempo, mas é demasiado fundamental para nos privarmos do amor, da arte, da capacidade de respirar em pleno. Viajar é respirar. É amar-se a si e aos lugares, aos outros. É viver. A forma como os sentidos actuam em viagem é completamente diferente da vida quotidiana. Os cheiros, os sabores, o olhar, as texturas, os sons. O tempo alonga-se. Vivese mais e mais intensamente. Compra-se tempo. Viajar é viver mais tempo. Marguerite Yourcenar, grande viajante, afirmava que ninguém é tão tolo que não viaje pela sua prisão, numa alusão à dimensão e partilha por todos do nosso mundo. O grande risco que o turismo enfrenta é o empobrecimento generalizado à escala global. A dimensão da crise é imprevisível. Tem-me impressionado muito e dado que pensar os efeitos calamitosos dos primeiros três meses de confinamento, de todo este último ano e a redução drástica da economia mundial. A acreditar nos especialistas serão anos e anos para os valores económicos pré pandemia. Onde está a sustentabilidade do modelo de desenvolvimento global? Um modelo de desenvolvimento que assenta no crescimento económico sistemático e infinito é sustentável onde? Só há um planeta! E talvez a tímida democratização do sector turístico nas últimas décadas sofra um forte revés, sobretudo pelo aumento exponencial das desigualdades sociais, que aliás têm aumentado profundamente neste século. T U R I S MO S , R I S C O S E É T I C A N A E R A D A P Ó S - V E R D A D E
RkJQdWJsaXNoZXIy MTE4NzM5Nw==