5 3 desigualdades sociais em Portugal sempre foram elevadíssimas, muito acima da média europeia. A pandemia tenderá a agravar e a desculpar uma situação que é estrutural em Portugal e que se tem deteriorado em muitos países ricos como é o caso dos Estados Unidos. Os níveis de concentração de riqueza e de desigualdade social são hoje provavelmente o maior desafio, a par das alterações climáticas. E interligados. E num mundo em crescente ebulição onde a revolta das populações grassa um pouco por todo o globo. Ligamos a televisão e só vemos falar de milhões. De milhares de milhões. De projectos, programas, incentivos, mas a realidade apresenta-se depauperada e difícil para a maioria das pessoas. As clivagens sociais nunca foram tão evidentes como nas últimas duas décadas. Num contexto de informação global, redes sociais, televisão por cabo, onde tudo é comunicado e partilhado. Onde o sentimento de privação é alimentado pelas vidas dos nossos milhares de amigos virtuais, fazendo esquecer que vivemos no mundo global mais próspero da história, com conquistas políticas, sociais e económicas, de saúde, de esperança média de vida e de bem estar, impensáveis em meados do século passado. Como é que a democracia sobrevive no contexto destes movimentos contraditórios que vivem num perpétuo presente? Como distinguir as realidades e as suas múltiplas percepções num mundo hipermediatizado sem passado nem história? Se a negociação e o compromisso das maiorias no estreito respeito e defesa das minorias, são as bases da democracia, como perspectivar o aumento exponencial de todo o tipo de fundamentalismos, extremismos e dogmas assentes na aniquilação do Outro? Como vimos nos últimos anos nos EUA. E vemos. Como vemos na esmagadora maioria dos países europeus sejam movimentos laicos, religiosos, com ou sem representação parlamentar. E noutras partes do mundo, como o Brasil. Giddens escreveu em 1999 que o grande desafio do século XXI seria o confronto de duas visões opostas e irreconciliáveis do mundo: cosmopolitismo versus fundamentalismo. Confesso que na altura achei o prognóstico um tanto exagerado. Ademais, as análises prospectivas vistas retrospectivamente, sempre representaram grandes falhanços. A capacidade de previsão e cenarização das mentes brilhantes, salvo raras e honrosas excepções, foram na maioria das vezes atropeladas pela história e por acontecimentos imprevisíveis. E falharam redondamente. Estou em crer que as últimas duas décadas têm provado o postulado de Giddens. A internet, essa maravilhosa e extraordinária invenção, essa ferramenta perfeita, tem permitido e desenvolvido uma capacidade extraordinária de amplificação e partilha desenfreada de teses individuais que durante séculos não saíram T U R I S MO S , R I S C O S E É T I C A N A E R A D A P Ó S - V E R D A D E
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