ESHTE Tourism Talks Vol. I

6 2 no curto prazo (que, por vezes, entram em contradição com as lógicas da longa duração). Além do mais, o tempo e a natureza da mudança social e das suas lógicas não são iguais às da criação, alteração e disponibilização de tecnologias e técnicas. No entanto, isto não significa que se recuse a dimensão de conexão ao mundo social exterior à academia ou a capacidade desta para intervir na resolução de problemas sociais práticos. Isso é essencial para garantir alguma intervenção eficaz, emancipatória e duradoura sobre os problemas. Porém, sem descurar o labor crítico, sem o qual não há mudança, apenas a sua aparência ilusória. As transformações das últimas décadas na produção de conhecimento refletem importantes mudanças sociais, alteração nas relações de poder entre a ciência e as outras práticas sociais, entre a academia o mundo que lhe é exterior, bem como emergência de novas ideologias hegemónicas. Como definem Gibbons et al (2010), estamos perante dois modos de produção de conhecimento - modos 1 e 2, aparentemente irredutíveis um ao outro - que envolvem um conjunto de complexo de ideias, métodos, valores e normas e uma alteração no papel da academia a esse respeito. O modo 1, mais antigo, está ligado à visão tradicional do papel e estatuto exclusivos da academia como centro de produção de conhecimento e de definição de regras sociais e cognitivas de produção, discussão, confirmação e legitimação de conhecimento (Gibbons et al., 2010). Cabe à ciência e seus académicos definir o que deve ser estudado e como, seguindo um método denominado científico, um modelo formal-abstrato, assentando na exegese critica. A legitimação e o valor desse conhecimento assentavam no reconhecimento interpares e secundarizaria a resposta a problemas e objetos exteriores aos interesses da academia. Recusaria o questionamento social do conhecimento e promoveria uma visão autoritária sobre o saber. Nas últimas décadas, um modo 2 tem emergido como predominante, secundarizando o rigor dos métodos científicos e da definição científica do objeto de estudo e da intervenção, em favor de preocupações com a legitimação social da ciência, a sua aplicação material imediata e sua mensurabilidade quantitativa (Gibbons et al., 2010). Os cientistas-académicos vão se transformando em técnicos-peritos, sem espaço para questionarem quem, como e porquê define o problema que são convocados a investigar C I Ê N C I A S S O C I A I S E H U M A N I D A D E S N O E N S I N O S U P E R I O R P O L I T É C N I C O N A S Á R E A S D O T U R I S MO E H O S P I T A L I D A D E

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