ESHTE Tourism Talks Vol. I

6 3 ou a solucionar, nem a justeza da definição deste. O objeto científico reduz-se ao problema social definido por outrem. O cientista vê a sua autonomia e a capacidade de moldar o campo muito afetadas. Os outros atores sociais exteriores ao campo académico passam a ser também produtores de conhecimento e a ciência deixaria de se preocupar com a verdade (Gibbons et al., 2010). Porém, este modo de produção (social) de conhecimento não escapa às lógicas de poder social existentes na sociedade. Há uma visão que tende a se tornar não apenas mais poderosa, mas inclusive hegemónica, refletindo o predomínio da lógica do económico e dos seus atores mais influentes sobre as outras esferas do societal. Este poder assenta não só no controlo dos recursos de investimento e de produção de informação e na legitimação do predomínio do investimento financeiro sobre o trabalho, mas também na emergência de uma linguagem e de uma narrativa assépticas de natureza tecnocrática, operacionalista e produtivista. São estes poderes que designam quais são os problemas do mundo e assim se furtam ao escrutínio social alargado, à exegese crítica e ao questionamento científico às suas lógicas interessadas. Emerge assim uma espécie de populismo na produção de conhecimento, também ele um modelo autoritário de produção de conhecimento dependendo das relações de poder e dominação existentes na sociedade. O universo académico pode combater esta dicotomia, tendo uma outra visão sobre a sua missão. Reclamamos aqui uma scholarship em sentido lato, envolvendo descoberta, integração, aplicação e docência e recusando o primado de um modelo elitista e fechado (Boyer, 1990). Um outro modo de evitar, citando Esteves (1986), esta passagem de uma falácia autoritária para uma falácia populista passa por articular os dois modos de produção como, de resto, Gibbons et al. (2010) defendem. Sendo o “conhecimento [também] a ‘prática’ e o exercício de poder que ocorre através de conversações escritas e faladas que temos com muitas pessoas e de muitas formas” (Fullager &Wilson, 2012, 2), a passagem de uma espécie de discurso que só se preocupa com investigação fundamental e ou téorico-indeterminada para uma lógica de prestação de serviços a que erradamente chamamos investigação aplicada e que recusa a teoria ou a despe de reflexividade crítica e contextualização espelha igualmente lógicas de poder. Transformar a ciência em mero acervo de técnicas manuseadas com perícia, condição para a sua a legitimação, agrava o C I Ê N C I A S S O C I A I S E H U M A N I D A D E S N O E N S I N O S U P E R I O R P O L I T É C N I C O N A S Á R E A S D O T U R I S MO E H O S P I T A L I D A D E

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