ESHTE Tourism Talks Vol. I

6 5 Primeiro, quem define o que é problema social e quem tem poder para discutir a sua formulação e ver implementado um objetivo? Ora, e na esteira de Lenoir (1989), sabemos que o que se designa como um problema social é ele próprio uma crise da sociedade ou do sistema e corresponde a uma formulação dominante. Ao invés do objeto científico, que implica problematizar a definição do que há a estudar, como e por quem. Segundo, o termo ‘aplicada’ tem ressonância ideológica, como se toda a investigação científica não fosse aplicada, sendo que alguma seria inútil. O que variam são os contextos e enfoques da sua aplicabilidade. O uso ‘aplicada’ implica a hegemonia da investigação centrada no imediatismo da sua transformação em técnica operacional, ou seja, quando a ciência se torna sobretudo engenharia técnica. Reduzir a investigação, ou os processos e objetivos de aprendizagem a uma etapa da fileira da produção de uma técnica implica não percecionar a sua contextualização, a lógica metodológica e social da sua emergência e do seu uso, dificultar o raciocino crítico e compreensivo e criar obstáculos à mudança. Além do mais, quando estamos perante seres humanos, é preciso equacionar a dimensão simbólica e a pluralidade social e historicamente determinada do sentido que atribuem às suas condutas e às dos outros. Caso contrário, estamos perante a catástrofe da tecnificação do humano. A proposta de investigação-na/pela-ação implica que todos os atores, do investigador aos diferentes tipos de atores sociais interessados na situação em estudo (e não apenas quem a pede), participam, com diferentes estatutos, na definição do problema e se pronunciem sobre estratégias de ação (Esteves, 1986). Trata-se, de um modo interligado, de produzir conhecimento sobre a realidade, capacitar atores para a mudança societal através de um processo de aprendizagem social e dar soluções aos problemas apresentados, cada momento servido por metodologias específicas. O investigador deve igualmente equacionar as suas representações e as dos atores envolvidos, sem abdicar da sua competência pericial. Pensemos então num exemplo possível. Um empresário contrata uma instituição de ensino para intervir na resolução do que ele entende ser um problema de produtividade e conflitualidade provocado pela introdução de nova tecnologia. O que o prestador de serviço faria seria, provavelmente, propor uma reorganização de tarefas e funções, programas de formação e ações de sensibilização junto dos empregados. Poderia até auscultar todos os atores, mas dificilmente faria C I Ê N C I A S S O C I A I S E H U M A N I D A D E S N O E N S I N O S U P E R I O R P O L I T É C N I C O N A S Á R E A S D O T U R I S MO E H O S P I T A L I D A D E

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