ESHTE Tourism Talks Vol. I

7 5 C I D A D E , T U R I S MO E P A T R I MÓ N I O U R B A N O Cidade, turismo e património urbano Luís Boavida-Portugal (luis.portugal@eshte.pt) ESHTE _______________________________________________________________ 1. A afirmação do turismo urbano Para a sociedade urbana – a que, globalmente, gera a maior parte da procura turística – a cidade é, muitas vezes, vista como um ambiente caótico e hostil, local de trabalho, de stress, de congestionamento e de poluição atmosférica, sonora e visual. Em contraponto, a romantização da vida campestre, de ummundo natural não “estragado” pela urbanização, é um traço recorrente em muitas escolas de pensamento alternativas ao modelo socio-territorial emergente da revolução industrial (Choay, 1965). O sedentarismo, com a clausura num meio artificial e em rotinas próprias do quadro de vida urbano, suscita, por oposição, o desejo da mudança de ambiente e de estilo de vida, o envolvimento em práticas “ativas”, proporcionadas pelo contacto com a natureza e com os seus ritmos. É, pois, compreensível que o turismo, no seu sentido de procura da evasão, privilegie a busca da natureza intocada, das paisagens rurais ou do mar e do ambiente não poluído, como forma de escapar aos aspectos negativos da vida urbana, de quebrar a rotina, de “mudar de ares”. Assim, o regresso ao campo, idealizado e transformado quase em utopia1, o retorno aos paraísos naturais – praias idílicas, montanhas, florestas – são traços muito presentes nas motivações turísticas do século XX. No entanto, nem sempre esta motivação foi dominante, já que as origens do turismo nos séculos XVIII e XIX estão intimamente ligadas à procura do património cultural, 1 Uma “utopia de fuga”, retomando a distinção de Mumford (Giordani, 1973).

RkJQdWJsaXNoZXIy MTE4NzM5Nw==