7 6 C I D A D E , T U R I S MO E P A T R I MÓ N I O U R B A N O tratando-se de viagens realizadas, em boa medida, como complemento do processo educativo (Cluzeau, 1988). O contacto direto com o património cultural material, inicialmente focado nos países da bacia do mediterrâneo e nos valores representativos da antiguidade clássica, mas depois alargando-se a outros territórios e categorias, constitui uma dimensão com fundas raízes no fenómeno turístico, que se foi, aliás, reforçando. A cada vez maior importância e disseminação das manifestações culturais nas sociedades contemporâneas e a construção de produtos de consumo que as tomam como base, evidenciam o potencial do sector cultural – desde o património às chamadas “indústrias criativas” – para o desenvolvimento económico e social (Dümcke & Gnedovsky, 2013), com especial relevo e impactos positivos ao nível do turismo. Importa, assim, reconhecer que nas motivações da procura turística assume crescente protagonismo a cidade, como espaço de concentração da oferta de bens e serviços qualificados, de liberdade e de afirmação pessoal, de inovação e de criatividade, de vanguardas e de cultura.2 Cidades diferentes, com outros “ingredientes urbanos” daquelas em que vivemos e trabalhamos, surgem idealizadas, assumindo qualidades que não reconhecemos no nosso próprio quadro de vida. Num modelo territorial cada vez mais suburbanizado, é mesmo possível descobrir com gosto recantos que não conhecemos escondidos no coração das nossas próprias cidades, espaços que para nós se foram tornando marginais à vida quotidiana. Elementos urbanos apelativos e que não fazem parte das nossas referências diárias, integrados num contexto culturalmente diferenciado, muitas vezes de reconhecido valor patrimonial, exercem um forte efeito de atração e suscitam a visita. A estes ‘ambientes urbanos’ diversos e atrativos são especialmente sensíveis os turistas oriundos de outros territórios e culturas, de cidades em que esses elementos têm reduzida expressão. Assim, a cidade turística torna-se para os seus visitantes “uma projeção ideal da própria cidade” (Rubio, 2006), expurgada dos aspectos negativos das suas rotinas urbanas, 2 Estas reflexões não levam em conta a disrupção causada pela pandemia Covid-19.
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