8 8 condicionadas e moldadas pelos recursos disponíveis, pelas suas necessidades nutricionais colectivas e pelo significado atribuído aos alimentos e às refeições, enquanto espaço social da alimentação (Poulain, 2002). A cultura alimentar é a base do património gastronómico. Mas cultura e património não são exactamente a mesma coisa e nem toda a cultura é patrimonializável, como referem Pereiro & Fernandes (2018, p. 325): O que distingue a noção de património cultural da de cultura é a forma como a primeira se manifesta na representação da cultura através da transformação do valor cultural dos elementos culturais. Não se pode conservar nem patrimonializar toda a cultura, daí que o património cultural seja só uma representação simbólica da cultura sendo, por isso, resultado dos processos de selecção e de negociação dos significados. Daí que o património cultural implique uma selecção de elementos e significados. O património possui, assim, a capacidade para representar simbolicamente a cultura e a identidade, possui eficácia simbólica (Prats, 1997; Zamora, 2011). Pode definir-se património como tudo aquilo que se possui, material ou imaterial, herdado ou adquirido, individual ou colectivo, público ou privado. O património pode ser natural ou cultural. O património cultural divide-se em material (móvel ou imóvel) ou imaterial (Zamora, 2011; Pereiro & Fernandes, 2018). A noção de património congrega, assim, o passado e o presente, o herdado e o adquirido, o material e o imaterial, o individual e o colectivo. Tal como a cultura, o património é dinâmico, isto é, evolui acompanhando a mudança social. Como refere Guilherme d’Oliveira Martins (2020, p. 7), “longe de se submeter a uma visão estática e imutável, tem de ser considerado como um «conjunto de recursos herdados do passado», testemunha e expressão de valores, crenças, saberes e tradições em contínua evolução e mudança.” Importa também referir aqui a perspectiva da activação e valorização do património – patrimonialização – como uma construção social a partir do presente e dos valores sociais e ideológicos vigentes (Prats, 2004; Zamora, 2011). É assim que desde o final do século XX a noção de património cultural se tem alargado, deixando “aos poucos de adotar uma definição redutora, materialista, monumentalista, tradicionalista, esteticista e historicista, para adotar uma visão mais antropológica” (Pereiro & Fernandes, 2018, pp. 335-336), isto é, considerando cada vez mais outros elementos da cultura. O reconhecimento do património imaterial e também da cultura G A S T R O N OM I A , U M P A T R I MÓ N I O A P E T E C Í V E L
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